Convidada do mês: Bia Scher, a Biabética

O século XXI está sendo marcado por diversos avanços tecnológicos que revolucionaram as formas de se conectar com o mundo. Dentre elas, as redes sociais, que a todo momento são lançadas e que já possuem bilhões de usuários.

Nesse sentido, muitas pessoas têm usado essas plataformas para impactarem e passarem informações positivas a quem tem diabetes, por exemplo.

Essa é a rotina da criadora de conteúdo e com diabetes tipo 1, Bia Scher, de 28 anos, que conta com mais de 37 mil seguidores em seu perfil no Instagram @biabetica. Lá, ela divide seu dia a dia e ajuda as pessoas na hora de aprender e entender o que é o diabetes. Formada em Relações Públicas, ela também está cursando Biomedicina.

Revista EmDiabetes: Quando você foi diagnosticada com diabetes? Como foi receber essa notícia?

Bia Scher: Não me lembro de muitos detalhes. Fui diagnosticada muito cedo, com quase sete anos de idade. Tenho muitos flashs e um deles é de quando estava fazendo diversos exames no consultório da médica e um deles foi o teste oral de intolerância à glicose. É preciso ingerir uma bebida de glicose em jejum e coletar uma amostra de sangue duas horas após. Não é muito confortável para uma criança que não entendia ainda muito o que estava acontecendo.

Outra lembrança marcante que tenho foi achar que o ‘teste’ era por escrito e, na verdade, era a ponta de dedo. Como qualquer criança, não gostei muito. Além disso, precisei tomar uma injeção de insulina, mas minha mãe ajudou. Ela olhou para mim e disse: ‘Filha, você tem que tomar e é não é melhor estar no colo da mamãe?’.

Nesse momento percebi como minha mãe me encorajou na minha primeira decisão no início do tratamento. Depois disso as coisas começaram a se encaixar. Meu pai explicou, de uma forma bem didática, o que estava acontecendo comigo e com o meu corpo. Fui me acostumando naturalmente.

Revista EmDiabetes: Após o diagnóstico, o que mais mudou na sua vida?

Bia Scher: A única coisa que mudou de fato foi ter a preocupação de medir a glicemia e aplicar a insulina. Passava a conviver com o diabetes, mantendo tudo na meta solicitada pela médica. No início foi mais difícil para os meus pais, já que eles precisavam ficar nesse controle por eu ser muito nova. Eles sempre fizeram questão de não me tratar diferente de nenhuma outra criança de sete anos.
Comia as mesmas coisas, fazia os mesmos exercícios e levava uma vida normal. Meus professores eram orientados pela minha mãe e já sabiam o que fazer quando eu relatava que estava passando mal ou algo do tipo.

Nunca fui impedida de fazer nada, o que acho ter ajudado muito no meu processo de adaptação na vida pós diagnóstico. Cresci assim.

Revista EmDiabetes: Como surgiu a ideia de criar o perfil @biabetica?

Bia Scher: Surgiu em 2015. Usava bomba de insulina desde 2007 e descobri em 2015, quando fazia meu TCC da faculdade de Relações Públicas, que o sensor de glicemia podia se conectar com a minha bomba. O sistema já estava disponível no Brasil. Tinha visto esse sensor em um evento da minha médica, usado por um atleta. Isso despertou um interesse muito grande, porque poderia mudar minha rotina. Quando descobri o preço, foi um susto porque era algo muito fora da minha realidade.

Meu pai sempre me ajudou financeiramente com o tratamento, mas era maior de idade e não gostaria de incluir mais gastos para o meu pai. Era hora de ir atrás de uma forma de conseguir isso. Nessa busca, descobri que tinha direito de obter o sensor pelo Estado por uma ação judicial.

Nessa época, uma pessoa me viu com a bomba e me abordou na rua, perguntando se eu comprava. Consegui o equipamento, a partir de orientações de um defensor público, que explicou o que era preciso para conseguir através do Estado. Foi quando percebi que o tema não era abordado como deveria e comecei a pesquisar na internet sobre diabetes. Vi que as informações eram raras, sempre focando em como era ruim viver com o diabetes. Não me identificava com aquilo.

Foi quando surgiu a Biabética. Passei a escrever e a explicar, de forma simples, como era realmente viver com o diabetes. Acabou que se transformou no meu TCC, onde precisava criar um planejamento estratégico de uma marca. Passei a dedicar tudo ao perfil.

Revista EmDiabetes: Qual a importância dos criadores de conteúdo que abordam o diabetes nas suas redes?

Bia Scher: A maior importância é conseguir mostrar para as pessoas, que são diagnosticadas, que elas não estão sozinhas. Não precisa ser um grande influenciador com milhares de seguidores. Todos fazem muita diferença na vida de muita gente. A sensação de você entrar em um perfil, que tem a mesma condição de saúde que você, é maravilhoso! Não conhecia praticamente ninguém igual a mim e vi que não era verdade. Não conseguia conversar com ninguém sobre o que é ter uma hipoglicemia, dividir informações e dicas sobre as situações que vivia. Não tinha ninguém para trocar figurinhas sobre o assunto.

É algo maravilhoso encontrar pessoas que falam sobre o diabetes tão abertamente nas redes, sem só ler sobre que é ruim ou complicado. Mas é preciso lembrar sempre que cada pessoa tem o seu organismo funcionando de um jeito e as experiências serão diferentes. Devemos ter bastante responsabilidade na hora de abordar o tema, principalmente as experiências pessoais.

Revista EmDiabetes: Como as pessoas recebem o seu conteúdo? Como é o relacionamento com o seu público?

Bia Scher: Geralmente, amam o conteúdo. Recebo muitas mensagens de elogio, dizendo o quanto ajudou, que foi útil, outras querendo ajudar, dando dicas sobre o que quer ver no meu perfil ou o que já mudou.

Essa relação a quem me acompanha, o apoio me impulsiona para continuar. Sempre fui mais quieta e retraída, e quando comecei a falar sobre o diabetes, reparei que as pessoas paravam para me ouvir. Isso ajudou muito no meu processo de descoberta pessoal, eu consegui entender o meu papel no mundo. Eu hoje entendo que ajudo pessoas e a mim mesma. A Biabética é o meu propósito de vida.

 

Reportagem Eduarda Menezes – repórter que faz parte do Projeto Educacional da DC Press/Revista EmDiabetes e a Agência UVA (Universidade Veiga de Almeida), supervisão Cris Dissat.